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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°79 - MARÇO DE 2004

Secagem

Preparo do eucalipto para a produção de móveis

A secagem é o primeiro e mais importante passo no preparo da madeira para a produção de móveis. Esta operação precisa ser bem planejada e conduzida, pois dela depende a qualidade final do produto, bem como o rendimento da transformação da matéria-prima em produtos acabados (móveis).

Neste sentido, um estudo realizado por José Reinaldo Moreira da Silva (DCF/UFLA), Lourival Marin Mendes (DCF/UFLA), Miroslav Kummer-Wenzel (CONVÊNIO ALEMANHA-SENAI) e Paulo Fernando Trugilho (DCF/UFLA) analisou o comportamento da madeira serrada de Eucalyptus grandis, seca ao ar livre, na região de Ubá/MG, bem como verificar a necessidade de criação de novas técnicas, visando à obtenção de material sem rachaduras e/ou empenamentos.

Os resultados revelaram a secagem ao ar livre fornece material adequado para a indústria moveleira. O produto obtido, portando pequenas rachaduras e leves empenamentos, demonstra que o processo da secagem ao ar livre, correta e tecnicamente executada, pode fornecer material com a qualidade exigida pelo setor moveleiro.

O Brasil possui uma vasta área reflorestada com o gênero Eucalyptus. A área plantada somente em Minas Gerais atinge, aproximadamente, 2,2 milhões de ha. A eucaliptocultura brasileira é uma das mais desenvolvidas do mundo, no que se refere aos aspectos silviculturais.

Contudo, o País, ainda, é carente de tecnologias adequadas para a utilização da madeira deste gênero para uso na indústria moveleira e produtos manufaturados. A África do Sul e Austrália e, mais recentemente, a Argentina e o Chile já dominam as técnicas de secagem e de utilização industrial da madeira de eucalipto (IPEF, 1995). No Brasil, o suprimento do mercado com as denominadas madeira de lei provenientes da Mata Atlântica e, atualmente, da Floresta Amazônica é apontado como causa da lenta evolução tecnológica do uso da madeira de eucalipto. Com a provável escassez destas madeiras pela expansão das fronteira agrícola, exploração predatória e não utilização de um plano de manejo sustentado, vem abrindo um amplo mercado para utilização de madeiras de reflorestamento, principalmente pinus e eucalipto. O pinus já ocupa um espaço destacado no setor.

No Brasil, as florestas de eucalipto foram implantadas com o objetivo de atender, principalmente, as indústrias siderúrgicas, e as de celulose e papel. Portanto estas florestas possuem madeiras com características específicas para satisfazer as exigências dessas indústrias. A utilização deste material genético na construção civil, na industria moveleira e de chapas apresenta vários inconvenientes. Estes inconvenientes estão relacionados com a perda e depreciação da madeira, que vão desde a operação de abate das árvores até a fase final de processamento, incluindo as fases de usinagem e acabamentos superficiais. Porém a fase mais importante é a secagem que se mal executada pode provocar rachaduras, empenamentos das peças e colapso das células.

Estes fenômenos ocorrem por causa das tensões originadas na estrutura anatômica provocadas pela rápida perda de água. Os defeitos da madeira estão, também, associados a outros fenômenos que ocorrem na fase de crescimento das árvores, como: tensões de crescimento, madeira juvenil, cerne quebradiço e coeficiente de anisotropia.

A industrialização da madeira de eucalipto para produção de móveis, por exemplo, tornou-se economicamente inviável pelo grande volume de perdas, durante as operações de processamento, reduzindo os rendimentos em madeira serrada e produtos derivados. As maiores perdas ocorrem durante a secagem da madeira, que se não for conduzida de maneira controlada e correta, pode causar a perda total da matéria-prima. Sem dúvida, a secagem correta é passo obrigatório para a obtenção de madeira com boas características de utilização.

A madeira necessita estar seca para receber acabamentos superficiais como pintura ou envernizamento, pois poucas tintas e vernizes aderem convenientemente à superfície úmida da madeira. Além disto, a umidade exercer pressão ao evaporar e pode causar bolhas e rachaduras na superfície acabada.

A secagem da madeira é a evaporação da umidade superficial, que é absorvida pela atmosfera local e, ao mesmo tempo, a movimentação da umidade interior para as zonas superficiais. A ineficácia do processo se deve à rápida perda da umidade superficial e a lenta translocação da umidade interna para a superfície. A velocidade da secagem está diretamente relacionada ao tipo de madeira, dimensões e arranjo das pilhas no pátio de secagem.

A largura da pilha, o espaçamento lateral entre as pilhas, a área da chaminé deixada no seu interior e a altura da primeira camada de tábuas com relação ao solo afetam o grau e a velocidade da secagem. As dificuldades técnicas em se secar a madeira de eucalipto são ainda persistentes. Até o momento a madeira de eucalipto, ainda, não é vista como matéria-prima adequada para a produção de madeira serrada para utilização no setor moveleiro, construção civil, embalagens e paletes.



Secagem natural



Na secagem de tábuas ao ar livre, na maioria das espécies, ocorre perda da metade do teor de sua umidade entre 15 e 30 dias; o restante é eliminado num tempo de 3 a 5 vezes maior, permanecendo as tábuas sob as mesmas condições de exposição. Isto é conseqüência do estado da umidade da madeira, visto que a água livre, que corresponde ao estado acima do ponto de saturação das fibras, é evaporada facilmente. O mesmo, entretanto, não se dá com a água de adesão que se apresenta em combinação coloidal com a própria substância madeira, sendo portanto mais fortemente retida que a água livre.

O processo de secagem começa, ainda, dentro da floresta, imediatamente após o abate. As condições de secagem existentes nestes ambientes podem ser muito drásticas, fazendo com que umidades de equilíbrio da ordem de 15,8% nos períodos chuvosos a 11,5% nos períodos secos sejam atingidas muito rapidamente. É aconselhável que as toras recém abatidas sejam levadas imediatamente às serrarias para se processar o desdobro e empilhamento. Caso tal procedimento não seja possível, deve-se usar técnicas que possibilitem a manutenção da umidade do material, por exemplo a imersão ou a aspersão de água sobre as mesmas.

O principal objetivo da secagem da madeira ao ar livre é fazer com que a maior quantidade possível de água evapore utilizando-se das forças da natureza. A secagem natural muitas vezes é usada como pré- secagem ou secagem parcial sendo a fase final feita em estufas, como também, para secagem completa, dependendo do seu uso.

Na secagem ao ar livre a madeira atinge a umidade de equilíbrio lenta e suavemente. O tempo de secagem varia em função das condições climáticas de cada região. Caso haja necessidade de umidade da madeira abaixo deste ponto, deve-se proceder a secagem em estufas.

A Divisão de Madeiras do IPT tem mostrado que é possível produzir vários tipos de móveis, com a madeira de eucalipto. Com Eucalyptus grandis, por exemplo, foram produzidos armários, escrivaninhas, estantes, gaveteiros e mesas. Esta espécie, dentre as 600 existentes do gênero, é a que se apresenta com maior potencial de utilização no setor moveleiro, devido as suas características físico-químicas, anatômicas e organolépticas.

Estas características colocam a madeira de Eucalyptus grandis em condições semelhantes à de mogno (Swietenia macrophylla King), que é a preferida pelo setor moveleiro. O objetivo do presente trabalho é estudar o comportamento da madeira de Eucalyptus grandis durante o processo de secagem ao ar livre e se necessário sugerir mudanças e adaptações na técnica, que permitam a obtenção de madeira seca com as características exigidas pelo setor moveleiro.

Os resultados encontrados pelos pesquisadores mostram que a secagem ao ar livre atende as expectativas de tempo de secagem e qualidade final da madeira. Pode-se concluir, ainda, que:

O uso das placas de concreto sobre a pilha impediu os empenos e aparecimento ou aumento das rachaduras de topo;

A base de 20cm de altura impediu a troca de ar úmido que ficou estacionado na parte inferior da pilha. É aconselhável, então, uma altura livre de pelo menos 50,0cm;

Como a secagem ao ar livre permite alcançar valores de umidade da madeira até a de equilíbrio com as condições climáticas locais, recomenda-se que a secagem seja executada na região onde for utilizada definitivamente, ou que seja feito, pelo menos, uma aclimatização desta madeira antes de ser utilizada;

A madeira utilizada possui grande quantidade de nós e rachaduras, fato que a desqualifica ou desvaloriza para utilização no setor moveleiro. Sugere-se a elaboração de um programa de melhoramento genético, visando a implantação de florestas com características desejáveis para produção de madeira serrada;

Sugere-se testes de trabalhabilidade da madeira e de acabamentos (aplicação de tintas, vernizes e tingidores) executados sobre os produtos moveleiros.



Março 2004