MENU
Adesivos
Biodiversidade
Bioenergia
Colheita
Construção Civil
Editorial
Incêndios florestais
Mudas florestais
Secagem
E mais...
Anunciantes
 
 
 

REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°115 - JULHO DE 2008

E mais

A cadeia produtiva do Pinus no RS situação atual, ações e perspectivas

Originário do Hemisfério Norte, o gênero Pinus, trazido para o Rio Grande do Sul na década de 60 encontrou no nosso Estado as condições favoráveis de clima e solo que lhe proporcionaram um desenvolvimento superior ao de seu local de origem: enquanto nos Estados Unidos a produtividade do Pinus é de 10 m³/ha/ano, no sul do Brasil passou de 25 m³/ha/ano em 1990 para 30 m³/ha/ano em 2005, ou seja, obteve-se 7,5% a mais de madeira na mesma área em um período de 15 anos, graças ao avanço tecnológico, particularmente ao melhoramento de sementes. Em 2007 a produtividade deste gênero atingiu 38,3 m³/ha/ano.

No Brasil, dos 5,97 milhões de ha de florestas plantadas, cerca de 1,8 milhões de ha são florestas de Pinus, sendo o Rio Grande do Sul responsável por 10% dos plantios deste gênero.

No território gaúcho, a área de florestas plantadas é de aproximadamente 563.000 ha, correspondendo a 2,8% de superfície do Estado. O PInus é o gênero com maior área cultivada, abrangendo aproximadamente 183.000 ha, correspondendo a 32% do total da área coberta com florestas plantadas (AGEFLOR, 2007). Também é responsável por uma cadeia produtiva na qual se destaca a indústria moveleira, a produção de celulose de fibra longa (matéria-prima para papel de maior resistência), produção de madeira para serraria, marcenaria e carpintaria, indústria de chapas (MDF e MDP) e a partir da extração de resina de Pinus, a produção de breu e terebintina, entre outras.

Conforme estudos realizados pela FEEE (2008), a atividade com maior grau de desenvolvimento no Estado é a indústria madeireira e do mobiliário, sendo o RS o mais especializado no cenário nacional em relação aos demais setores.

No contexto nacional, o plantio de Pinus diminuiu em 1,4% de 2006 para 2007 passando de 1.824,269 ha para 1.808,336 ha. Entretanto o incremento médio anual passou de 35,0 m³/ha/ano em 2006 para 38,3 m³/ha/ano em 2007, conforme dados da ABRAF (2008), no Rio Grande do Sul, a área de plantios passou de 150.000 ha, em 2002 para 183.000 ha em 2007 (AGEFLOR, 2008).

No aspecto social, somente a fabricação de móveis e indústrias diversas gerou 40.023 empregos, em 4.148 indústrias instaladas no Rio Grande do Sul em 2008 (FIERGS, 2008). O setor de movelaria,em 2002, teve um faturamento anual de R$ 2.500 milhões (UFSM, 2002) e em 2007, de R$ 3.200 milhões (AGEFLOR, 2007).

A produção florestal no RS, no período de janeiro de 2003 a janeiro de 2007, segundo o CAGED (dados compilados pela AGEFLOR, 2007) gerou 100.372 empregos, equivalente a 2,91% dos empregos gerados no período. Isto significa que, a cada ano, foram gerados em média 25.093 empregos no setor florestal.

Conhecimento

Apesar da importante cadeia produtiva instalada a partir da década de 60 no Estado, nos últimos anos, os plantios de Pinus têm sido alvo de críticas, muitas delas questionavam por ser sem fundamentação científica, o que levou a AGEFLOR a buscar no conhecimento técnico-científico as necessárias respostas, através de parcerias e convênios com Instituições de Pesquisa e com Universidades, no sentido de desfazer “mitos” que vêm sendo divulgados. Além disso, está desenvolvendo programas para sensibilizar os vários atores que participam da cadeia produtiva, no sentido de estabelecer uma cooperação para promover o manejo sustentável do Pinus, construindo arranjos produtivos locais, integrados aos projetos de desenvolvimento municipais, compondo os planos de desenvolvimento regionais e, conseqüentemente, o arranjo produtivo estadual.

Para tanto, está sendo desenvolvido o projeto de pesquisa “Avaliação da umidade do solo e das características químicas da água nos plantios de Pinus no Sul do Brasil” realizado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em parceria com a Universidade de Fraiburg (Alemanha), que já desenvolveu trabalhos semelhantes na Floresta Negra. Este projeto, com duração de 10 anos, tem como objetivo quantificar e analisar as características químicas da água da chuva no campo nativo e dentro da floresta de Pinus com gotejamento das copas e escorrimento pelo tronco, determinando também o conteúdo nutricional da água na solução do solo do campo nativo e nesta floresta. Conta com laboratórios já instalados na UFSM e investimentos da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (AGEFLOR), da Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) e da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRÉ), entidades formadoras da Associação Sul Brasileira de Empresas Florestais (ASBR), com apoio do SINDIMADEIRA, do SINPASUL e da MOVERGS.

Diante da constatação da ocorrência de uma praga que poderia dizimar os plantios de Pinus em todo o Brasil, desde 1989 vem sendo desenvolvida pesquisa para o controle biológico da vespa da madeira (Sirex noctílio), espécie originária da Europa, e Norte da África, pertencente à ordem Hymenoptera, família Siricidae. Este trabalho foi realizado pela EMBRAPA Florestas, com recursos arrecadados junto às Associações de Empresas Florestais (AGEFLOR, ACR e APRE). Os plantadores de Pinus cadastrados nas Associações passaram a contribuir para um fundo nacional – o FUNCEMA, gerido pela Associação Sil Brasileira de Empresas Florestais e, com estas contribuições, aliadas aos recursos da EMBRAPA FLORESTAS, possibilitou, além da realização das pesquisas, a manutenção dos laboratórios, a produção e distribuição de nematóides com os quais se realiza o controle biológico desta praga.

Nos últimos anos, particularmente no litoral sul do Estado, a resinagem do Pinus tem constituído importante atividade econômica. O breu a terebintina obtidos a partir da resina são empregados pela indústria química mundial na produção de solventes, tintas, óleos essenciais, fármacos, perfumes, materiais adesivos e à prova d’água, e na indústria química fina de sabores para a fabricação de aditivos alimentadores, entre outros (Rodrigues et al., 2008).

A otimização do rendimento e qualidade da resina é objeto de grande interesse econômico, uma vez que permite a exploração sustentada de um produto florestal não madeireiro de alto valor agregado. No litoral sul do Rio Grande do Sul desde 2002, muitos trabalhos têm sido realizados a partir da modulação dos fatores fisiológicos envolvidos na biossíntese de oleoresina em P. Elliottii Engelm, visando o aumento da produção e produtividade deste produto (Rodrigues et al., 2008).

As pesquisas estão relacionadas à substituição dos componentes químicos ativos presentes na formulação da pasta indutora de resina aplicada sobre a incisão (estria) realizada no tronco das árvores estimuladas, sendo o alto valor de mercado destes um dos principais gargalos tecnológicos enfrentados atualmente no desenvolvimento desta atividade. Além disso, os mesmos pesquisadores vêm trabalhando com a seleção de indivíduos que apresentam produção muito superior de resina para a posterior propagação de seus genótipos e o desenvolvimento de marcadores moleculares associados a essa característica, aumentando a eficiência da produção de biomassa e um melhor aproveitamento das áreas plantadas com Pinus.

Sustentabilidade

Em 2006, um grupo de empresas associadas da AGEFLOR, visando a sustentabilidade da cadeia produtiva instalada no Estado, subsidiou a elaboração de um Programa para promover o manejo sustentável dos plantios e a competitividade das indústrias com base em Pinus, resultando no programa denominado COMPETPINUS.

O COMPETPINUS foi elaborado por uma equipe profissional multidisciplinar a partir de algumas premissas, tais como: determinar os reais impactos ambientais, sociais e econômicos do Pinus no RS, manter e expandir os benefícios sociais às comunidades envolvidas, assegurar a participação atual e conquistar novos mercados, agregar valor aos produtos e estimular a adoção das “boas práticas” de manejo florestal e gestão ambiental, visando adequar as atividades produtivas às exigências legais e institucionais atuais e futuras relativas ao meio ambiente.

Este Programa está alinhado com o Programa Floresta Indústria – RS tendo como componentes três planos: Gestão Ambiental. Desenvolvimento Tecnológico e Desenvolvimento Industrial. Em curto prazo, estão sendo desenvolvidas Etapas Piloto, concentradas inicialmente em duas regiões: na Serra Gaúcha, abrangendo os municípios de Cambará do Sul, Jaquirana, Bom Jesus, São Francisco de Paula e São José dos Ausentes e na região do Litoral, abrangendo os municípios de Rio Grande, São José do Norte, Mostardas, Tavares, Palmares do Sul e Santa Vitória do Palmar. Nesta etapa, o objetivo é sensibilizar as comunidades para a formação de parcerias e desenvolver ações de cooperação para ser construído o Arranjo Produtivo Local, de forma integrada com as demais atividades tradicionais ou potenciais do município, integrando a cultura do Pinus ao Projeto de Desenvolvimento Municipal e Regional.

No componente Gestão Ambiental, a AGEFLOR firmou convênio com a organização “Os Amigos da Floresta”, tendo como objetivo o desenvolvimento de ações de gestão ambiental, que promovam a produção sustentável, a adequação dos plantios de Pinus aos parceiros de conservação da biodiversidade, a busca da competitividade e o estabelecimento de arranjos produtivos, alinhadas na proposta de desenvolvimento sustentável e de conservação ambiental no RS, reforçando o conceito de que a floresta plantada contribui de forma decisiva parta o desenvolvimento econômico e social do Estado e do País, e desempenha importante papel no meio ambiental e na qualidade de vida das populações que dela dependem.

Em cumprimento ao convênio, foi elaborada a cartilha> “Manejo dos Plantios de Pinus – Gestão Ambiental” de distribuição gratuita aos produtores rurais. Na cartilha constam informações sobre a capacidade de dispersão de sementes, os motivos porque ocorre, a importância de serem adotadas medidas preventivas e ações práticas de controle da dispersão do Pinus. Também são apontadas as necessárias adequações dos plantios à legislação em vigor, como manutenção das áreas de preservação permanente (APP), instituição da reserva legal que em consórcios poderá formar corredores biológicos, possibilidade de criação de Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) para formação de mosaicos, observação do entorno de umidades de conservação (zona de amortecimento), áreas com comunidades tradicionais e monitoramento de fauna, entre outros procedimentos constantes na legislação florestal e ambiental, motivando o planejamento das propriedades em termos de integração agro-silvipastoril e outras atividades potenciais como a fruticultura, piscicultura e turismo.

Outros cuidados, como observar faixa sem plantio sob rede de energia, em divisas de propriedades e na faixa de domínio de rodovias, também são citados e ilustrados. Em relação à conservação da paisagem é observada a possibilidade de se fazer um arranjo na composição com matas nativas, sem prejuízo aos plantios florestais. Nas áreas com potencial turístico, as atividades produtivas podem integrar-se ao turismo como parte do meio de vida da comunidade, sendo isto viável através de um diálogo construtivo com os diversos setores e atores representativos das múltiplas atividades e interesses das comunidades locais.

Para o controle da dispersão são descritas práticas simples como remover plantas jovens, apontando-se as prioridades para remoção, técnicas para retirada de árvores maiores e adultas, além de indicar medidas preventivas que se resumem num bom plano de manejo dos plantios, acessível aos produtores.

Com essas iniciativas, as empresas florestais representadas pela AGEFLOR demonstram sua preocupação em manter e desenvolver projetos sustentáveis na ótica de cadeia produtiva, com resultados econômicos e sociais positivos para toda a sociedade.

Nesta perspectiva, através da construção de arranjos produtivos locais discutidos e elaborados em cada município, num processo de cooperação entre o setor público e o setor privado, integrados numa visão de desenvolvimento regional, se vislumbra alcançar o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva com base em Pinus no Rio Grande do Sul, integrando os aspectos econômicos com o bem-estar social, respeitando o meio ambiente e dando competitividade a esta atividade produtiva florestal, num cenário que se mostra favorável no contexto nacional e internacional.

Na concepção do Programa COMPETPINUS, se parte da premissa de que o mesmo deve ser construído a partir dos interesses da comunidade representativa do município, que é a célula mãe sobre a qual se pode constituir um Estado realmente desenvolvido.

Roque Justen
Presidente da AGEFLOR Associação
Gaúcha de Empresas Florestais
Bacharel em Ciências Contábeis.
Margô Guadalupe Antônio
Engenheira Florestal, Mestre em
Desenvolvimento Regional
Assessora Técnica da AGEFLOR